Minha mãe um dia me perguntou qual lugar do mundo eu gostaria de morar,
depois de tantos lugares maravilhosos que eu já havia conhecido, qual
deles havia mais me encantado.
-Se eu pudesse escolher seria Bragança, eu
eternizaria Bragança.
Bragança é a cidade ao norte de Portugal que eu fiquei um
ano estudando como intercambista. E quando eu acabei de dizer isso para
minha
mãe, eu pensei o quão boba eu era. Como eu iria eternizar Bragança? Como
se
eterniza uma coisa que já é eterna? E foi nesse momento, puxando malas e
conversando com a minha mãe em uma ladeira no Porto, que eu percebi que
eterno
não é aquilo que dura para sempre.
Eterno é o invisível que se torna tão visível quando puxado das
lembranças. O
invisível são os sentimentos, os momentos, as imagens que só a cabeça de
quem
passou por determinada situação é capaz de reproduzir. Eterno pode ter a
duração de um segundo ou muito mais. Eterno pode ser um beijo, uma
pessoa, um lugar, uma viagem. Eterno é o que você não esquece,
independente do
tempo ou da distância. O eterno é aquilo que dura no coração. Por isso, o
meu intercâmbio já era eterno desde o
momento que eu pisei em Bragança. E aí eu me lembrei do café-bar que os
estudantes de Erasmus iam quase todos os dias se encontrar na minha
Bragancinha. Eu me sentia na Malhação, indo para o Gigabyte...hahahaha.
Mas a minha segunda casa se chamava Momentos e sempre que eu ia para lá
eu olhava para a parede e lia: "O valor das coisas não está no tempo que
elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso, existem
momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis."
Isso, Fernando Pessoa me entenderia perfeitamente.
Me lembro que
quando saí do Brasil, eu fiquei pensando como eu iria me adaptar a uma
cidade com cerca de 25 mil habitantes. Logo eu que era tão urbana e que
gostava tanto do agito
e do cheiro das cidades grandes. Hoje eu vejo que eu me não me conhecia
bem. Lembro também que meu coordenador do Brasil em uma reunião com os
futuros intercambistas, nos disse: "Não achem que vocês foram escolhidos
porque vocês são os melhores, mas vocês estão indo para se tornar
pessoas melhores."
É
fato que não se pode comparar a estrutura de uma cidade pequena da
Europa com a estrutura de uma cidade pequena do Brasil. Quando eu
cheguei em Bragança, vi um lugar limpo,
tranquilo, uma cidade que gira em torno da universidade e que oferece
tudo o
que uma pessoa precisa para viver. Percebi então que eu poderia sim me
adaptar
a um lugar pequeno, aquele que seria minha casa por um ano. Era um mundo
diferente do que eu estava acostumada. Eu nunca pensei caminhar sozinha
por ruas desertas depois de meia noite.
Mas Bragança me oferecia a segurança que eu, brasileira, não achava que
encontraria em lugar nenhum.
Eu fui pra faculdade, eu estudei, eu assisti aulas com ótimos
preofessores.
Eu conheci boa comida, eu viajei, fui para festas e vi muitas
despedidas. Conheci o novo e tive uma nova visão do antigo. Eu entrei em
contato com diferentes culturas e dividi a
minha.
E foi olhando pra trás que eu entendi o porquê de ter sido Bragança o
meu destino. Porque lá eu encontrei tudo o que eu queria e precisava no
momento. Eu fui para Bragança porque eu tinha que estudar no IPB, porque
eu tinha que ir para o lugar que possui o espírito acadêmico mais forte
do mundo. Quando eu tinha 11 anos e comecei a ler os livros do Harry
Potter, meu sonho era receber a carta para Hogwarts...hahaha. Recebi
coisa melhor, recebi uma carta de aceite para estudar em Portugal, que
foi uma das inspirações de J. K. Rowlling. Sim, existe um lugar em que
as pessoas utilizam aquelas capas e trajes, existe um lugar em que os
alunos são separados em escolas, as quais eles defendem arduamente e dão
a vida por elas. E eu estudei nesse lugar, em uma das inspirações da
autora do meu personagem de adolescência preferido.
Eu tinha que ir para Bragança porque eu tinha que conhecer a Vik, o
Belito, o Edd, o Claudio, o Machado, o Thallison, o Raphael, a Camila, o
Gokhan, o Hugo, a Ema. Eu tinha que dividir quarto com a Suelen, eu
tinha que conhecer a Turma da Charabanada(o melhor grupo do whatsapp!),
brother, eu tinha que conhecer a CHARABANADA( se você não conhece, CORRE
pra Bragança...hahaha). Eu tinha que conhecer o Wellinton, o Guilherme,
o Oscar, o Yuri, a Jéssica, a Carolina, a Mag, o Lívio, o Carlos, o
Tomek, o Miguel. Eu tinha que ter uma segunda casa chamada Momentos. Eu
tinha que conhecer as mexicanas, os brasileiros de várias partes do
nosso país que moravam lá, os milhares de turcos que se tornaram nossos
amigos e que deram pouso para mim e para a Vik na Turquia inteira. Eu
tinha que conhecer os polacos e os portugueses, obviamente. Eu tinha que
ajudar a organizar as Baladas Loucas e a Pau Quebrante. Eu tinha que
conhecer aquela cidadezinha incrível que me fez questionar sobre a minha
paixão por cidade grande. Eu tinha que conhecer melhor meu Brasil
através de Portugal. Eu tinha que me conhecer melhor.
O intercâmbio é tão intenso que pode ser comparado a uma vida toda. Você
chega no lugar, e essa é a hora em que você nasce ali. Como uma
criança, começa a aprender a língua, os caminhos, as maneiras e os
costumes do local. Começa a reconhecer quem vai ser sua nova família.
Normalmente nessa fase, tem sempre alguém te acompanhando, pessoas
sempre junto de você que estão ali para te dar uma mãozinha. Afinal,
você ainda nem sabe quais ruas deve virar. Aí você cresce, e não precisa
mais que ninguém esteja na sua cola, essa é a fase da adolescência,
você vai para faculdade, tem compromissos, e se diverte, vai para
baladas, faz amigos, tem romances. Aí você reproduz, reproduz momentos,
histórias, alegrias, tristezas, todas as emoções ao mesmo tempo. E aí
chego o final. Você passa a não ser mais quem era, sua visão muda. Seu
jeito de agir muda. Você passa a entender que existem coisas mais
importantes dos que as que você julgava que eram.
E foi assim, aprendendo tantas lições de vida, que eu aprendi uma de
final de vida. Porque no dia do fim do meu intercâmbio, o que menos
importava eram quais bens materiais eu tinha adquirido e estava levando
para o meu país. E essa foi a pergunta que eu mais escutei quando
cheguei ao Brasil: " Trouxe muita roupa? Trouxe muita roupa de frio? Com
qual celular você está? Tablet? Notebook?" Na verdade, quase todas as
roupas que eu comprei lá, eu deixei para as outras pessoas que iriam
chegar. Muitos brasileiros iriam para Bragança, e é normal que nós do
país tropical não tenhamos muitas roupas de inverno decentes quando
chegamos em um lugar frio como Bragança é.
E na verdade, quando eu estava indo embora e dando adeus para as
pessoas, eu percebi que o mais importante que eu deixava eram aquelas
pessoas, e os momentos que elas dividiram comigo. E o engraçado, é que
eu não estava deixando de fato. Na verdade, eu estava deixando e levando
comigo. Deixando com os meus amigos e levando comigo os sentimentos que
compartilhamos, o que aprendemos juntos, as mais diferentes
experiências que vivenciamos e todo o amor que nos unia. E eu me senti
extremamente grata a todas aquelas pessoas que saíram embaixo de chuva,
de neve de suas casas e foram até a minha ou até a rodoviária para me
dar um abraço e desejar coisas boas. Eu me senti extremamente grata por
ter gente chorando comigo, aqueles mesmos que riram comigo quando eu
estava feliz. Eu me perguntei porque eles estavam ali, porque tinha
gente me esperando no aeroporto no Brasil e como eu estava feliz de ter
tanta gente boa do meu lado. Esse laço invisível que impulsiona as
pessoas a saírem de suas casas e irem encontrar quem elas amam foi a
coisa mais impostante que eu tive no intercâmbio. E eu nem preciso de
mala para isso, esse sentimento vem junto, tá no coração. Foram muitos
ensinamentos, momentos, sentimentos multiplicados por mil. São amigos e
amores. E é na despedida que você vê quem realmente vai fazer falta, o
quanto você gosta de pessoas que talvez você nem imaginava que gostava.
Despedir dos amigos é complicado, e imagina se despedir da pessoa que
você é apaixonada e tem um relacionamento.
No dia da minha despedida, eu descobri que aquela pessoa que eu gostava tanto me roubava. Naquele exato momento eu descobri que quem vinha me roubando era ele. No início, pequenos furtos, depois ficaram maiores. Eu fiquei indignada de ser brasileira e de ter tido o descuido de deixar um europeu me roubar daquele jeito. Eu que me cuido tanto e que sempre ando agarrada com a minha bolsa. Na hora de me despedir, eu descobri que a pessoa que eu estava apaixonada, me roubava. Ele era ladrão. Ele roubou um pedaço do meu coração, do meu tempo, dos meus pensamentos e da minha vida.
No dia da minha despedida, eu descobri que aquela pessoa que eu gostava tanto me roubava. Naquele exato momento eu descobri que quem vinha me roubando era ele. No início, pequenos furtos, depois ficaram maiores. Eu fiquei indignada de ser brasileira e de ter tido o descuido de deixar um europeu me roubar daquele jeito. Eu que me cuido tanto e que sempre ando agarrada com a minha bolsa. Na hora de me despedir, eu descobri que a pessoa que eu estava apaixonada, me roubava. Ele era ladrão. Ele roubou um pedaço do meu coração, do meu tempo, dos meus pensamentos e da minha vida.
Intercâmbio é vida, é aprendizado, é ensinamento . E se eu pudesse escolher, seria Bragança dez mil vezes!
#vaiserfeliz
Nicole Werneck.
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